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Eficiência Energética na Indústria: menos consumo, mais futuro!
Nos últimos anos, a eficiência energética na indústria tem sido um tema central. São cada vez mais as indústrias que acreditam que o futuro passa por rever os seus procedimentos. É amplamente apontado pela sociedade a necessidade de resolver problemas ao nível energético e ambiental, pela escassez de combustíveis fósseis, aumento dos custos de produção e degradação ambiental, para assim conseguir reduzir o consumo energético à escala global e atingir as metas de eficiência energética.
O que encontra neste artigo?
Regulamentação aplicada na Europa
A aplicação de métodos de eficiência energética leva a ganhos ambientais, financeiros e sociais em todos os setores. A utilização eficiente da energia é essencial para a competitividade económica, uma vez que, os consumos de energia constituem um enorme peso para as empresas.
A eficiência energética deverá ser sempre uma opção prioritária. Na europa, já foram aplicadas regulamentações que impulsionam essa viragem, como a diretiva de Eficiência Energética (2012/27/EU), que estabelece metas e medidas para melhorar a eficiência energética em todos os setores, incluindo a indústria.
Posteriormente a diretiva 2018/2022 veio determinar que a “eficiência energética deverá ser reconhecida como um elemento fundamental e um fator prioritário a tomar em consideração ao tomar futuras decisões de investimento nas infraestruturas energéticas da União.” Esta diretiva estabelece um conjunto de medidas de promoção da eficiência energética, para garantir a concretização do objetivo da União Europeia de atingir 32.5% em matéria de eficiência energética até 2030 e proporcionar novos projetos nesta área para além dessa data.
Eficiência energética em Portugal
De forma a cumprir com estes objetivos, em Portugal foram implementados o plano nacional de ação para eficiência energética (PNAEE) e o sistema de gestão de consumos intensivos de energia (SGCIE) que estabelece requisitos para a monitorização, gestão e eficiência energética de instalações com consumos intensivos de energia, tal como as indústrias.
3 motivações para a aplicação de modelos de eficiência energética na Indústria
A aplicação de modelos de eficiência energética na Indústria tem 3 fortes motivações, que englobam:
1) Redução de custos e rentabilidade económica a longo prazo
Com a otimização do uso energético é possível economizar o consumo de energia, investir em equipamentos mais eficientes, em melhorias na estrutura com maior eficiência térmica, otimizar as rotas de transportes, economizar em eletricidade, combustíveis e outros recursos energéticos, resultando em vantagens económicas significativas, a longo prazo.
2) Sustentabilidade ambiental
Uma indústria com maior eficiência energética tem um impacto ambiental reduzido. A redução do consumo de energia é uma das principais causas de emissões de gases de efeito estufa e poluição ambiental. Ao reduzir o consumo de energia, as indústrias podem diminuir a pegada de carbono na empresa e influenciar colaboradores e a comunidade envolvente.
3) Cumprir objetivos comunitários e regulamentações
A temática da sustentabilidade e eficiência energética é uma necessidade que vai além das intenções da empresa. É sim, um compromisso com o futuro. A diretiva eficiência energética (2012/27/EU) levou ao estabelecimento de objetivos para redução de consumo energético em 20% até 2020. Posteriormente, em 2018, a diretiva UE 2018/2022 levou a alterações do objetivo de eficiência energética para pelo menos 32,5% em 2030.
Atualmente está em vigor o objetivo 55, um conjunto de propostas destinadas a rever toda a legislação da EU para que o objetivo de redução das emissões em pelo menos 55% até 2030 seja uma obrigação legal. O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 (RNC2050) estabelece de forma sustentada a trajetória para atingir a neutralidade carbónica em 2050, define as principais linhas de orientação, e identifica as opções de custo eficazes para atingir aquele fim, em diferentes cenários de desenvolvimento socioeconómico.
5 passos para ganhar com a Gestão da Eficiência Energética
As unidades industriais são essenciais na economia global e também responsáveis por grande parte do consumo de energia e emissões de gases de efeito estufa. Conscientes da necessidade de adotar práticas sustentáveis e otimizar o consumo de energia nas suas operações, é decisivo promover a eficiência energética na indústria, ou seja, ter um menor consumo de energia em cada produto ou serviço utilizado, sem alterar o estilo de vida ou abdicar do conforto.
Para iniciar os processos de melhoria de eficiência energética na indústria é essencial proceder ao controlo e monitorização dos dados, e uma análise cuidada da informação recolhida junto da empresa, de todas as medições registadas, da tipologia de consumos, das tendências de evolução dos gastos energéticos.
Só depois da recolha e conhecimento de todos estes dados é possível iniciar a pesquisa de mercado, para que se encontrem soluções eficientes e adequadas a cada situação industrial. Desta forma é possível ter maior fiabilidade dos resultados obtidos.
A monitorização dos dados é basilar a este processo. Antes de se começar a melhoria é essencial saber o ponto de partida.
Para ganhar com a eficiência energética industrial deve:
1. Desenhar e diagnosticar todo o processo industrial
É essencial conhecer todo o processo, equipamentos, atividades, produtos, tempos de produção, desperdícios, e identificar os locais fundamentais do processo e os principais pontos de melhoria. Também é possível conhecer os níveis de produção de energia própria, a viabilidade do investimento e analisar a eficiência energética industrial (exemplo: energia produzida por painéis fotovoltaicos).
2. Monitorização dos dados de consumos
É fundamental implementar sistemas de controlo de dados de consumos operacionais. Implementando um software, como o ACCEPT OEE, é possível a recolha, análise e visualização de dados relacionados com o consumo de energia nos seus processos, por equipamento e/ou produto. É possível uma indicação automática dos custos de acordo com os tarifários contratualizados.
Em questões de produção de energia própria, a gestão de dados apoia a decisão de horários de fabrico mais eficientes (aproveitando a energia produzida por fontes renováveis) levando à redução de custos para a produção de um mesmo produto.
3. Análise de dados
Com recurso a algoritmos e técnicas de análise de dados é possível a aplicação de um software que identifica padrões, tendências e anomalias nos dados de consumo. A apresentação dessas informações em dashboards simplificados ajuda a empresa a compreender o seu perfil de consumo, a identificar desperdícios e tomar decisões informadas para a redução do consumo de energia.
4. Automação e controlo
É possível implementar um software que recolha dados diretamente de sensores e autómatos integrados, de forma automática, e em tempo real sobre o desempenho do equipamento e o seu consumo energético. Essa integração pode ser otimizada com a implementação de set points que enviam alertas quando os valores não estão dentro das especificações. Embora alguns processos tenham variáveis de controlo humano, existem outros que quando feitos automaticamente libertam os operadores de tarefas redundantes.
5. Gestão energética
Conhecendo todo o processo é possível analisar os dados recolhidos num sistema como o ACCEPT OEE. Daqui é possível analisar as ineficiências energéticas, identificar situações de mau funcionamento da rede e dos equipamentos, realizar ajustes operacionais e implementar melhorias para maximizar a eficiência energética industrial. Estes dados também irão ajudar a estabelecer metas de redução energética, acompanhar o progresso dessas metas e fornecer relatórios detalhados sobre o desempenho energético da empresa.
Este ganho será visível dentro e fora da fábrica. Tanto pelos ganhos obtidos a longo prazo com as ações de melhoria, como pelo efeito que tem nos stakeholders, incentivando-os a adotar comportamentos mais sustentáveis. Isso pode ser feito através de painéis de controlo em tempo real, dinâmicas, feedback instantâneo sobre o consumo de energia individual ou de equipa.
Eficiência energética na indústria como fator decisivo
A eficiência energética na indústria é um fator decisivo para a nova revolução industrial por vários motivos como:
Sustentabilidade: Com o aumento da preocupação global com as mudanças climáticas e a escassez de recursos naturais, a eficiência energética na indústria torna-se essencial para reduzir a pegada de carbono e diminuir o impacto ambiental das atividades industriais.
Competitividade: Empresas que adotam tecnologias e processos mais eficientes energeticamente podem reduzir seus custos de produção e, assim, ganhar vantagem competitiva no mercado.
Inovação: A procura por maior eficiência energética industrial incentiva a inovação tecnológica, estimulando o desenvolvimento de novas soluções e tecnologias mais limpas e sustentáveis.
Redução de desperdícios: A eficiência energética na indústria permite otimizar o uso de recursos, evitando desperdícios de energia e materiais durante o processo de produção.
Responsabilidade social: Empresas que adotam práticas de eficiência energética demonstram compromisso com a responsabilidade social e podem atrair mais clientes e investidores preocupados com questões ambientais.
Regulamentação: Com o aumento da consciencialização sobre os impactos ambientais, é provável que as regulamentações governamentais se tornem mais rigorosas em relação à eficiência energética na indústria, tornando-a uma exigência para operar em alguns setores.
Todos estes fatores tornam a eficiência energética na indústria um fator decisivo para a sustentabilidade do futuro do setor porque combina benefícios ambientais, económicos e sociais, impulsionando a inovação e a competitividade das empresas e garantindo um futuro mais sustentável para a indústria e a sociedade como um todo.
Patrícia Marto Carreira
Mestre em Tecnologia e Segurança Alimentar pela FCT-UNLisboa. Realizou estágios na Chemiphar, Brugge e no grupo Lusiaves no departamento da qualidade, apoiando a implementação da IFS. Foi Responsável de Higiene e Segurança Alimentar na Panicongelados, SA e na Clara&Gema. Atualmente, desempenha funções de Consultora de Projetos na Sinmetro.