Artigo, Pré-embalados
Pré-embalados na indústria das Conservas, o que preciso saber?
O embalamento de produtos alimentares em embalagens contendo meios líquidos para a sua preservação parece remontar a tempos bem distantes. Segundo consta, no período da Revolução Francesa, Nicolas Appert descobria que o aquecimento de alimentos em recipientes fechados poderia interromper o processo de fermentação. Por volta de 1795, Nicolas Appert inicializava a comercialização de produtos embalados em garrafas, sendo as suas técnicas precursoras dos atuais métodos de conservação em lata. Conheça neste artigo, tudo o que precisa de saber sobre o controlo metrológico de produtos pré-embalados na indústria das conservas.
Este tipo de embalamento apresenta, ainda hoje, inúmeras vantagens no acondicionamento e preservação de produtos alimentares. Utilizado vulgarmente para o embalamento de carnes, peixe, frutas e vegetais, constitui um método de elevada sustentabilidade ambiental, pelo facto de na indústria das conservas serem utilizadas embalagens totalmente recicláveis, é o caso do vidro e da lata, por serem seguras e esterilizadas, manterem as propriedades nutricionais dos produtos e terem um longo prazo de validade, entre outras qualidades. Por estes motivos, parece ser seguro afirmar que as conservas são um tipo de produto que irá permanecer durante muitos e bons anos no mercado das pré-embalagens.
Declaração da quantidade nominal
Na maioria dos casos, os pré-embalados embalados desta forma consistem em alimentos sólidos embalados em conjunto com um meio líquido, sendo considerado que este último tem apenas um papel acessório relativamente a todo o preparado da embalagem e, portanto, não é encarado como um elemento decisivo aquando da transação comercial. Na indústria das conservas, os meios líquidos são habitualmente constituídos por água, soluções aquosas de sal, açúcar ou outros adoçantes, vinagre ou mesmo sumos de frutas ou vegetais.
De acordo com o Regulamento (UE) N.º 1169/2011, sempre que um alimento sólido seja apresentado numa embalagem contendo um meio líquido, o peso líquido escorrido do alimento também deverá ser declarado na embalagem em conjunto com a declaração do peso líquido. Ou seja, do peso total composto pelo peso do alimento em conjunto com o peso do meio líquido.
Ora, se neste tipo de pré-embalagens, a quantidade declarada que tem interesse para a transação comercial é a do peso líquido escorrido, então torna-se importante perceber como determinar esta variável. Importa referir que o peso líquido escorrido refere-se à quantidade do alimento sólido que consta na embalagem após ser atingido o equilíbrio com o meio líquido envolvente e, por isso, a sua determinação só deverá ser realizada após um período de armazenamento de, pelo menos 12 horas, à temperatura de comercialização do produto, ou caso não exista esta especificação, a uma temperatura compreendida entre 20 °C e 24 °C, conforme estabelecido no Guia WELMEC 6.8 do WELMEC.
Como é determinado o peso líquido escorrido?
A determinação do peso líquido escorrido tem, entre outros, um inconveniente que não é frequente na determinação dos conteúdos efetivos dos pré-embalados mais comuns no mercado. O controlo metrológico na indústria das conservas requer a abertura das embalagens para a sua medição, requerendo assim a necessidade de realizar ensaios destrutivos, o que implica um maior dispêndio de tempo (do) que o habitual na determinação dos conteúdos efetivos das embalagens. Condicionante esta, que acresce à premissa referida em cima, relativa ao período de armazenamento, dificultando o acompanhamento da dosagem de produto em tempo real.
Metodologia e equipamento necessário
No que diz respeito a equipamentos, determinar o peso escorrido requer ainda a utilização de um crivo que permita reter a parte sólida do produto e escorrer o meio líquido. O Guia WELMEC 6.8 refere que deve ser utilizado um crivo com uma malha quadrada de 2,5 mm, com uma espessura do fio de 1,0 mm. Para realizar esta operação, o crivo deverá ser colocado sobre um plano inclinado com, aproximadamente, entre 17° a 20° relativamente a um plano horizontal.
A determinação do peso líquido escorrido é realizada por leitura direta da massa de sólido contida no crivo, utilizando um instrumento de pesagem com a resolução adequada, após ter sido previamente tarado com a massa do crivo e após um período de escorrimento de 2 minutos, desde a colocação do produto no crivo.
Peso escorrido lavado
Por vezes, alguns produtos são embalados com um meio líquido cuja viscosidade é demasiado elevada para que o mesmo possa escorrer simplesmente por ação da gravidade. Uma lata de sardinhas em molho de tomate é um exemplo desses casos. Perante este tipo de cenário, é necessário proceder à lavagem do produto principal, que no exemplo referido acima seria a sardinha, espalhando o produto uniformemente pelo crivo e borrifando o mesmo suavemente com água a uma temperatura de aproximadamente 20 °C.
Marca de conformidade ℮
Ao contrário do que seria de esperar, a marca de conformidade ℮, que indica que o produto é sujeito a um controlo de processo adequado e que, habitualmente, é colocada junto à indicação da quantidade nominal, no caso dos produtos embalados em meio líquido, deve ser colocada junto à indicação do peso líquido e não do peso escorrido.
Esta nota referida no Regulamento (UE) N.º 1169/2011 é divergente da opção considerada para os produtos congelados e ultracongelados vidrados, onde a marca de conformidade deve ser colocada junto da declaração do peso escorrido, ou seja, do peso sem a água de vidragem. É uma incoerência que no futuro poderá ser harmonizada, mas poderá dever-se à natureza da própria metodologia utilizada no controlo de processo de cada um dos tipos de produtos.
Conclusões
O controlo metrológico de produtos pré-embalados na indústria das conservas é de grande importância no universo dos produtos pré-embalados pois representa uma proporção muito significativa dos produtos pré-embalados colocados no mercado.
Vimos que este tipo de produtos apresenta inúmeras vantagens no seu consumo, porém, no que diz respeito ao controlo em processo requerem técnicas especificas para determinação dos conteúdos efetivos e a realização de ensaios destrutivos. Estas técnicas são habitualmente demoradas e requerem, por isso, um maior investimento de tempo por parte dos embaladores para avaliar as quantidades de peso escorrido nas embalagens, e ainda assim, não permitem um controlo das quantidades em tempo real.
De qualquer forma, continua a ser igualmente imprescindível realizar a determinação do peso escorrido destes produtos. Sem medir não é possível conhecer o estado dos processos e, mesmo que não se consiga intervir em tempo real nos processos, só é possível atuar nos mesmos sabendo como estes se comportam, mesmo que para tal exista um desfasamento temporal. Só assim é possível garantir que o consumidor paga aquilo que realmente leva para casa.
Referências
Guia WELMEC 6.8, Edição 3, 2020, Drained Weight – Guide on the Verification of Drained Weight, Drained Washed Weight and Deglazed Weight, disponível em WELMEC Guide.
Regulamento (UE) N.º 1169/2011 do Parlamento Europeu e do Conselho de 25 de outubro de 2011, relativo à prestação de informação aos consumidores sobre os géneros alimentícios.
Mestre em Eng.ª do Ambiente, Rui Manuel Pedrosa da Silva realiza e coordena, desde 2008, ensaios de verificação metrológica de Pré-embalados. Desde 2012, participa como formador e orador em vários seminários e formações sobre Controlo Metrológico de Pré-embalados. Atualmente desempenha funções de Gestor da Qualidade e Diretor Técnico na empresa Aferymed.
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