Artigo, Qualidade Industrial
Aprendizagem académica vs. realidade do chão de fábrica
Neste artigo, convidámos Elisa Costa a partilhar um pouco da sua primeira experiência laboral, após a conclusão dos estudos. Conheça, na primeira pessoa, os principais desafios que um recém formado na área da Gestão Industrial enfrenta no choque de realidade com o chão de fábrica.
Elisa Costa
Licenciada em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro (UA).
Concluiu estágio curricular na área da Melhoria Contínua na Lactogal Produtos Alimentares, S.A.
Tese de mestrado realizada no âmbito da Melhoria Contínua em Engenharia e Gestão Industrial na Universidade de Aveiro (UA).
Para mim ter a possibilidade de continuar os estudos, na universidade, foi e é um privilégio. Afinal, todo o conhecimento que a partir dela tenho vindo a adquirir constitui a base para o futuro que idealizei, na área da Engenharia e Gestão Industrial.
No entanto, é essencial ter em consideração que o que se aprende neste espaço compreende, como já referi, apenas um primeiro passo, no que diz respeito ao percurso profissional de qualquer estudante. Na verdade, o mundo empresarial exige um jogo de cintura bastante maior do que aquele que a universidade nos ensina a ter. Mas por que razão tal acontecerá?
A dicotomia entre a aprendizagem académica e a realidade do chão de fábrica
Quando iniciei o meu estágio curricular na Lactogal Produtos Alimentares, SA facilmente consegui relacionar conceitos que absorvi academicamente com o que ocorre no chão de fábrica. Contudo, também pude reparar que muitos desses conceitos se encontram adaptados à indústria em causa, pelo que procurei adequar o que outrora me fora lecionado, consoante o que experienciei, no dia a dia. De entre as demais experiências destaco uma em particular, associada com o estudo de um processo específico, através do Controlo Estatístico de Processos.
Lembro-me perfeitamente de, na universidade, abordar este tema em unidades curriculares como Engenharia da Qualidade ou Gestão da Qualidade. Na altura, obtive a perceção primária do que é o Controlo Estatístico de Processos, nomeadamente, aprendi que, teoricamente, consiste numa “metodologia para monitorização de um processo que visa a identificação de causas especiais de variação, sinalizando a necessidade de se tomarem ações corretivas sempre que apropriado”. (Evans & Lindsay, 2002)
Já no decorrer do meu estágio, deparei-me com uma ferramenta poderosíssima, utilizada para a execução de um controlo estatístico mais refinado e, como se deve imaginar, apropriada às tarefas diárias da empresa: o ACCEPT.
Foi neste preciso ponto – no qual descobri o referido software – que não só compreendi a dicotomia entre o mundo académico e o do trabalho, como também entendi o quão fundamental seria gerir as duas abordagens. Para tal, foi relevante recordar, com precisão, a teoria exposta em sala de aula e, acima de tudo, compreender como a mesma está integrada no programa e, por isso, no quotidiano dos colaboradores.
A importância do equilíbrio
Na minha opinião, para quem gosta de estudar – e para quem segue a teoria à regra, como eu – não é simples desenvolvermo-nos, numa organização, sem pensar no que, um dia, nos fora ensinado. Aliás, acho realmente importante ter em consideração a literatura e o que o ensino nos oferece. Porém, é fundamental ter a consciência de que existem inúmeros problemas diários, e outros tantos fatores, no chão de fábrica e não só, que influenciam o modo como o ser humano trabalha e pensa.
Por esta razão, defendo que deve existir um equilíbrio entre a aprendizagem académica e a realidade, de uma dada empresa. Assim, ao procurarmos diminuir o gap existente entre as duas vertentes, interligando-as, acredito que os resultados obtidos, profissionalmente, serão bastante consistentes e positivos.